16.4.09

Excelente leitura de «Salazar o Maçon»

Uma leitura de "Salazar o maçon"

Para um leigo, ou profano na designação maçónica, o livro do Juiz José Costa Pimenta conceituado jurista com vasta bibliografia na área do Direito, é uma descoberta interessantíssima. Lê-lo é ficar a conhecer mais da doutrina da Maçonaria, seja a da Regular como a da Irregular, que vem até nós ao longo de séculos.
O tema do livro, porque é António de Oliveira Salazar, Presidente do Conselho de Ministros durante quase toda a II República, ou Estado Novo, tem feito tremer as paredes do Templo e as muralhas atrás das quais se refugiam os seus últimos seguidores, passados que foram 39 anos da sua morte. Para os maçons e para os salazaristas este livro é provocatório e incomodativo. Põe em causa princípios e valores, atinge homens que, ao lado de Salazar, também ele um “traidor”, aparentemente traíram a sua obediência, atinge a figura do ditador que, aparentemente, teria traído todos os seus ultra – conservadores seguidores e aliados monárquicos, republicanos e tutti quanti.
O método de prova para a identificação de Salazar com a Maçonaria – para além da verificação de que muito cedo deixou de frequentar os sacramentos da Igreja Católica em que foi educado, certamente porque aderira à "religião natural", (curiosa a explicação dada pela governanta D. Maria a uma afilhada, de que o Papa o teria dispensado de se confessar e comungar…) – é o de tomar palavras –chave da doutrina maçónica e de as “encontrar” nos escritos de Salazar, principalmente nos seus discursos. A verdade é que, usadas exactamente na mesma acepção, elas parecem revelar uma filiação na doutrina da Maçonaria. Si non è vero…
Lendo este livro, eu que não sou maçon nem muito menos salazarista, não fico perturbado. Ao contrário, fico a perceber melhor o pensamento político do autocrata de Santa Comba Dão, muitas das suas acções, muito das suas ambiguidades, das suas simpatias e antipatias políticas.E, no fundo, apesar dos atropelos à doutrina e prática maçónicas, Salazar até, ao construir um regime à sua exacta medida e das suas ambições de poder pessoal, inscreveu na Constituição de 1933 as liberdades formais (que depois suspendeu com outras normas) e o Estado Novo era uma democracia, embora orgânica…
Afirma-se por aí que foi iniciado na Loja Revolta nº 336, em Coimbra, em 1914, proposto pelo seu amigo maçon, Bissaya Barreto. E que escolheu o nome de código de Pombal. Afirma-se, também, que teria dito que gostaria de ser primeiro –ministro de um rei absoluto. Tal como o marquês de Pombal que, sendo maçon, não deixou de ser um déspota "iluminado".
Sabido que a Maçonaria está onde está o poder, porque não acreditar que Salazar foi maçon? Eu, que sou profano, fiquei a acreditar.

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