20.4.09

«Salazar II»


No livro recém-publicado Salazar, o maçon, de Costa Pimenta, afirma o autor que o antigo presidente do Conselho de Ministros teria pertencido à Ordem Maçónica. Para isso se baseia numa série de premissas de que retira conclusões tidas como irrefutáveis.Muito se tem escrito nos últimos anos sobre Salazar, desde a biografia que lhe consagrou Franco Nogueira até a obras de veracidade discutível, algumas fruto de imaginações delirantes. Não se esperava, porém, que alguém viesse sustentar que Salazar fora maçon. Embora sempre rodeado de maçons, como o Marechal Carmona ou o conselheiro Albino dos Reis, para citar apenas um presidente da República e um presidente da Assembleia Nacional, a política de Salazar sempre pareceu contrária à Maçonaria, nomeadamente a partir da célebre lei das Associações Secretas, de 1935, cujo projecto se deveu ao deputado José Cabral.O livro de Costa Pimenta é, antes de tudo, um manual de introdução à Maçonaria (à Maçonaria Simbólica e à Maçonaria dos Altos Graus), transcrevendo largas passagens dos rituais adoptados em Portugal ou no estrangeiro, e acrescentando em apêndice o "Cobridor Geral dos XXXIII Graus". De todas estas transcrições e de algumas afirmações de Salazar extrai Costa Pimenta a conclusão de que Salazar era Maçon. Mais escreve o autor, na Conclusão da obra: "Por outro lado, se Salazar era maçon, então os seus escritos dizem muito mais do que aparentam dizer. Na verdade, os maçons escrevem da seguinte maneira: [C]om um «positivo» de leitura directa e acessível aos profanos e um «negativo», apenas decifrável por um restrito universo de iniciados. Por conseguinte, os escritos de Salazar serão uma mina de informações, embora só ao alcance de um número restrito de pessoas. Realmente, usando o idioma maçónico, Salazar diz, por exemplo, de Portugal, da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e do Cardeal Cerejeira coisas verdadeiramente surpreendentes." É pena que Costa Pimenta nada nos diga sobre essas coisas, que ele provavelmente sabe, já que tão bem utiliza a linguagem maçónica na sua obra. A menos que reserve tão extraordinárias revelações para um próximo livro. Anunciado como "um documento histórico único", apresentando "factos inéditos" e revelando "todas as provas ocultas", o livro apenas demonstra o elevado grau de conhecimentos maçónicos do seu autor, sendo substantivamente inconclusivo quanto à alegada filiação maçónica de Salazar. Ainda que num ou noutro ponto se verifique, realmente, uma identificação da linguagem de Salazar com os princípios da Maçonaria.O que a História até hoje registou (publicamente) foi que Salazar sempre se comportou como um adversário daquela Augusta Ordem. Para que a História possa ser revista são necessárias provas inequívocas que não as conclusões extraídas por Costa Pimenta.Até lá...que seja trabalhada a pedra bruta.
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