18.5.09

«A Caipirinha de Aron» na TimeOut

«Imaginem um João Carlos Espada sem fato nem gravata, que se está nas tintas para as maravilhas da gentlemanship e, sobretudo, com sentido de humor. OK, não é tarefa fácil. Mas quem conseguir esse prodigioso feito terá como prenda um retrato aproximado de Henrique Raposo, sem dúvida o mais interessante cronista político a chegar aos jornais nos últimos anos.
A Capirinha de Aron – o estranho título pretende traduzir a luta constante entre a frieza do pensamento analítico (a parte do Aron) e o gosto por uma prosa criativa e tropical (a parte da caipirinha) – reúne textos publicados no Expresso em 2008, mas também crónicas um pouco mais antigas da revista Atlântico e do blogue Acidental, onde Henrique Raposo começou a dar nas vistas.
Curiosamente, o que em certos colunistas é um defeito – a obsessão por certas temáticas, como por exemplo Vasco Graça Moura a escrever 639 vezes sobre o acordo ortográfico –, no caso de Raposo funciona como um trunfo, que dá a este livro uma inesperada unidade, tendo em conta que reúne quase 80 textos diferentes. O autor tem alguns mantras que repete incessantemente: a falta de amor dos portugueses por um pensamento institucional, que ultrapasse a mera trica política; o excesso de amor pelo porreirismo (“Mantorras e Sócrates na terra do inho” é, nesse aspecto, um texto notável); a existência de democracia mas a falta de um verdadeiro estado de Direito, tal como de uma Direita autêntica. Só que, se são mantras, são óptimas mantras – e sempre expostos de forma clara e original. Não se pode pedir a quem escreve num jornal mais do que isto: lucidez pessimista, escrita com a dose certa de ironia.»
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João Miguel Tavares
terça-feira, 12 de Maio de 2009

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