«Imaginem um João Carlos Espada sem fato nem gravata, que se está nas tintas para as maravilhas da gentlemanship e, sobretudo, com sentido de humor. OK, não é tarefa fácil. Mas quem conseguir esse prodigioso feito terá como prenda um retrato aproximado de Henrique Raposo, sem dúvida o mais interessante cronista político a chegar aos jornais nos últimos anos.
A Capirinha de Aron – o estranho título pretende traduzir a luta constante entre a frieza do pensamento analítico (a parte do Aron) e o gosto por uma prosa criativa e tropical (a parte da caipirinha) – reúne textos publicados no Expresso em 2008, mas também crónicas um pouco mais antigas da revista Atlântico e do blogue Acidental, onde Henrique Raposo começou a dar nas vistas.
Curiosamente, o que em certos colunistas é um defeito – a obsessão por certas temáticas, como por exemplo Vasco Graça Moura a escrever 639 vezes sobre o acordo ortográfico –, no caso de Raposo funciona como um trunfo, que dá a este livro uma inesperada unidade, tendo em conta que reúne quase 80 textos diferentes. O autor tem alguns mantras que repete incessantemente: a falta de amor dos portugueses por um pensamento institucional, que ultrapasse a mera trica política; o excesso de amor pelo porreirismo (“Mantorras e Sócrates na terra do inho” é, nesse aspecto, um texto notável); a existência de democracia mas a falta de um verdadeiro estado de Direito, tal como de uma Direita autêntica. Só que, se são mantras, são óptimas mantras – e sempre expostos de forma clara e original. Não se pode pedir a quem escreve num jornal mais do que isto: lucidez pessimista, escrita com a dose certa de ironia.»
A Capirinha de Aron – o estranho título pretende traduzir a luta constante entre a frieza do pensamento analítico (a parte do Aron) e o gosto por uma prosa criativa e tropical (a parte da caipirinha) – reúne textos publicados no Expresso em 2008, mas também crónicas um pouco mais antigas da revista Atlântico e do blogue Acidental, onde Henrique Raposo começou a dar nas vistas.
Curiosamente, o que em certos colunistas é um defeito – a obsessão por certas temáticas, como por exemplo Vasco Graça Moura a escrever 639 vezes sobre o acordo ortográfico –, no caso de Raposo funciona como um trunfo, que dá a este livro uma inesperada unidade, tendo em conta que reúne quase 80 textos diferentes. O autor tem alguns mantras que repete incessantemente: a falta de amor dos portugueses por um pensamento institucional, que ultrapasse a mera trica política; o excesso de amor pelo porreirismo (“Mantorras e Sócrates na terra do inho” é, nesse aspecto, um texto notável); a existência de democracia mas a falta de um verdadeiro estado de Direito, tal como de uma Direita autêntica. Só que, se são mantras, são óptimas mantras – e sempre expostos de forma clara e original. Não se pode pedir a quem escreve num jornal mais do que isto: lucidez pessimista, escrita com a dose certa de ironia.»
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João Miguel Tavares
terça-feira, 12 de Maio de 2009
João Miguel Tavares
terça-feira, 12 de Maio de 2009
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