4.5.09

Os «ensaios faliciosos» segundo Henrique Raposo

«Sem medo da polémica, Henrique Raposo, investigador e colunista do Expresso, aponta cinco "ensaios falaciosos" publicados emPortugal.
.
A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos, Karl Popper.
Editorial Fragmentos.
Este livro revela que Popper é medíocre como pensador político. A ideia de que Platão foi o primeiro colectivista totalitário é simplesmente disparatada.
.
A Raiva e o Orgulho, Oriana Fallaci.
Difel.
É o exemplo máximo da histeria anti-islâmica. Fallaci respondeu à diabolização do Ocidente – feita pelos islamistas – comuma diabolização do Islão.
.
A Marioneta e o Anão –O Cristianismo entre Perversão e Subversão, Slavoj Zizek.
Relógio d’Água.
Já tínhamos stand-up comedy. Agora temos stand-up philosophy. E Zizek é o bobo-mor desta corte pós-moderna. Neste circo opinativo semcritérios, a obscuridade cómica de Zizek é transformada emsofisticação intelectual. Em A Marioneta e o Anão – uma suposta reflexão sobre o cristianismo – vemos Zizek a brincar comovos Kinder. Mais: Zizek "analisa" os ovos Kinder através de citações dispersas de Hegel, Lacan, Marx, entre outros. Tudo se resume a um name-dropping sem sentido, que acaba por ser uma manifestação de humor involuntário. Ou talvez não. O raciocínio de Zizek é tão mau que, num acto de piedade, podemos considerar o seguinte: os textos de Zizek são propositadamente maus; porventura, Zizek está mesmo a fazer humor de forma consciente.
.
Orientalismo, Edward Said.
Cotovia
Orientalismo codificou o "politicamente correcto" (a alcunha da esquerda desde os anos 70). Resumindo, Said afirmou que o "ocidental" não pode criticar o "outro", porque qualquer crítica ocidental estará sempre contaminada pelas relações de poder (Ocidente forte versus "Outro" fraco). Aquilo que escapou a Said é o seguinte: a verdade não depende do poder. Aliás, o pensamento livre depende da separação entre as variáveis verdade e poder. Ao fundir as duas, Said inventou a Nova Esquerda,mas tambéminventou uma falácia epistemológica. Uma cultura fraca pode não ter razão perante uma cultura forte, isto é, o poder estrutural de X não determina a legitimidade moral de X.

Um só Mundo – A Ética da Globalização, Peter Singer.
Gradiva
Peter Singer defende uma ética para uma comunidade mundial. Ora, na realidade internacional,
não existe essa comunidade mundial de indivíduos sonhada por Singer. Mas a realidade nunca interessou a idealistas como Singer. Se temos a virtude do nosso lado, por que razão devemos
perder tempo comos factos?»
.
In: Revista Ler, Maio 2009
.

Sem comentários:

Enviar um comentário